A 30.000 anos-luz do centro da Via Láctea, perto da borda de um de seus braços espirais brilhantes, existe uma pequena concentração de matéria gravitando em torno de uma estrelinha amarela. A massa total deste aglomerado é de 2E+30 quilogramas e seu diâmetro é de aproximadamente 6E+24 metros.
Quase a totalidade desta massa, mais de 99%, está concentrada na estrela central, o Sol. Por isso chamamos ao conjunto Sistema Solar. A matéria restante está dispersa na forma de planetas, planetóides, satélites, cometas, partículas de poeira e gelo.
Observando mais detalhadamente, veremos uma estrela rodeada por uma rarefeita nuvem de poeira, onde se destacam quatro corpos maiores, os planetas gasosos. Girando em torno destes planetas estão dezenas de corpúsculosos menores, seus satélites.
As órbitas mais internas são ocupadas por astros menores, os quatro planetas rochosos. O maior destes quatro é quase um planeta duplo, e o mais importante para nós: a Terra, acompanhada da Lua, (o centro de massa está pouco abaixo da superfície da Terra).
Separando os dois grupos podemos distinguir uma tênue nuvem de partículas: milhares de asteróides. Apenas dezoito têm diâmetros médios acima de 200 km e quatro se destacam: Ceres (974 km), Pallas (545 km), Vesta (522 km) e Higia (431 km).
A atração gravitacional dos grandes planetas perturba seriamente sua estabilidade, criando aglomerações ou lançando alguns para órbitas mais excêntricas. Alguns chegam a cruzar a órbita da Terra, criando situações de risco, só minimizadas por suas pequenas dimensões em relação à vastidão do espaço.
Além da fronteira dos grandes planetas gasosos está um outro cinturão de partículas, conhecido como o Cinturão de Kuiper. Visto dali, o Sol é apenas uma estrela brilhante que não consegue fazer frente ao frio do espaço. Os corpos que compõem este cinturão costumam ser chamados de KBO's, abreviatura de Kuiper Belt Objects ou Objetos do Cinturão de Kuiper.
Alguns destes corpos, formados provavelmente de rocha e gelo a uma temperatura média de 50 kelvins, foram arrancados do cinturão e se estabilizaram em órbitas mais baixas, como é o caso de Plutão & Caronte, Quaoar, Varuna, Ixion, 2004DW , Sedna, 2003 UB313 e outros, em órbitas mais afastadas. Alguns dos satélites dos panetas gasosos provavelmente têm a mesma origem. Vários outros serão observados nos próximos anos, como resultado da entrada em operação dos novos telescópios gigantes e de novas camaras CCD, mais sensíveis, auxiliadas pelos sistemas de óptica adaptativa.
Na borda externa do sistema está uma outra nuvem de partículas, muito maior e mais rarefeita: a Nuvem de Oort. Esta nuvem é a origem dos corpos de órbitas mais irregulares e excêntricas, os cometas, que literalmente caem em direção ao Sol, quando sua estabilidade é perturbada pelo movimento dos planetas gasosos, de maior massa. A existência desta nuvem foi sugerida por Jan Hendrik Oort (1900-1992), a partir da análise das órbitas de vários cometas. Como ela acompanha o Sol em seu movimento em torno do centro galático e sofre sua influência gravitacional, somos obrigados a concluir que ela é parte do sistema solar.
Até o Cinturão de Kuiper os corpos estão localizados sobre um disco, onde se concentra o momento angular do sistema, girando em torno da estrela central. Já a Nuvem de Oort teria um formato de uma grande casca esférica, o que é comprovado pelas direções aleatórias que os cometas se aproximam do Sol. Eventualmente um cometa cai na direção do Sol e é por ele absorvido ou, passando por suas proximidades assume uma órbita hiperbólica, que o ejeta para fora do sistema solar, em direção a alguma outra estrela, enquanto uns poucos se tornam cometas periódicos.
Segundo esta nova visão, o número de planetas não se limitará aos nove atualmente divulgados nos livros didáticos e as dimensões do sistema solar serão extraordinariamente aumentadas (cerca de 600 vezes o diâmetro da órbita de Plutão & Caronte), ocupando 1/10 da distância até a estrela mais próxima. Construímos abaixo um quadro que resume os principais elementos e dimensões do nosso sistema em ordem de distância do centro.
Nome | Dist.(m) | Dist. ua | Massa (kg) | ||
Estrela central | Sol | 0 | 0 | 1,99 E+30 | |
Planetas rochosos | Mercúrio | 5,79 E+10 | 0,39 | 3,30 E+23 | |
Vênus | 1,08 E+11 | 0,72 | 4,87 E+24 | ||
Terra | 1,49 E+11 | 1,00 | 5,98 E+24 | ||
Marte | 2,28 E+11 | 1,53 | 6,42 E+23 | ||
Cinturão dos asteróides | Borda interna | 3,30 E+11 | 2,21 | 3,60 E+21 * | |
Vesta | 3,85 E+11 | 2,58 | |||
Palas | 4,14 E+11 | 2,78 | |||
Ceres | 4,20 E+11 | 2,82 | |||
Higia | 4,69 E+11 | 3,15 | |||
Borda externa | 5,00 E+11 | 3,36 | |||
Planetas gasosos | Júpiter | 7,78 E+11 | 5,22 | 1,90 E+27 | |
Saturno | 1,43 E+12 | 9,60 | 5,69 E+26 | ||
Urano | 2,87 E+12 | 19,2 | 8,70 E+25 | ||
Netuno | 4,50 E+12 | 30,2 | 1,03 E+26 | Planetas Gelados Anões ou Transnetunianos |
|
Cinturão de Kuiper |
Borda interna | 5,00 E+12 | 33,6 | 1998 SN165** | 5,70 E+12 | 38,3 | Huya | 5,88 E+12 | 39,5 | 8,00 E+19 | Orcus | 5,90 E+12 | 39,6 | 6,60 E+20 | 2003 AZ84** | 5,91 E+12 | 39,7 | Ixion | 5,91 E+12 | 39,7 | 1,82 E+21 |
Plutão | 5,91 E+12 | 39,7 | 1,32 E+22 | ||
Caronte | 5,91 E+12 | 39,7 | 2,40 E+21 | Salacia | 6,08 E+12 | 40,8 | 4,50E+20 | 2005 RN43** | 6,23 E+12 | 41,8 | 2004 GV9** | 6,25 E+12 | 41,9 | 2002 MS4** | 6,27 E+12 | 42,1 | 2014 MU69** | 6,45 E+12 | 43,0 | 2002 UX25** | 6,36 E+12 | 47,2 | 7,90 E+20 | 2002 TX300** | 6,45 E+12 | 43,3 |
Varuna | 6,45 E+12 | 43,3 | 5,90 E+20 | ||
Quaoar | 6,49 E+12 | 43,6 | 2,21 E+21 | ||
Haumea | 6,71 E+12 | 45,0 | ~ 6 E+21 | ||
Makemake | 6,79 E+12 | 45,6 | ~ 6 E+21 | ||
Chaos | 6,88 E+12 | 46,2 | |||
2002 AW197** | 7,10 E+12 | 47,7 | ~ 7,43 E+20 | ||
Borda externa | 7,20 E+12 | 48,3 | |||
Disco Disperso *** |
|||||
1999 KR16** | 7,27 E+12 | 48,8 | |||
2002 TC302** | 8,23 E+12 | 55,2 | |||
1999 DE9** | 8,28 E+12 | 55,6 | |||
2004 XR190** | 8,49 E+12 | 57,0 | ~ 7 E+20 | ||
Eris | 1,00 E+13 | 67,1 | 1,52 E+22 | ||
2007 OR10** | 1,00 E+13 | 67,1 | |||
1996 GQ21** | 1,38 E+13 | 92,6 | |||
2007 TG422 | Periélio | 5,33 E+12 | 35,5 | - | Afélio | 1,46 E+14 | 972 |
2013 RF98 | Periélio | 5,45 E+12 | 36,3 | - | Afélio | 9,21 E+13 | 614 |
2004 VN112 | Periélio | 7,10 E+12 | 47,3 | - | Afélio | 9,78 E+13 | 652 |
2010 GB174 | Periélio | 7,29 E+12 | 48,6 | - | Afélio | 1,04 E+14 | 694 |
Sedna | Periélio | 1,13 E+13 | 75,8 | 5,06 E+21 | Afélio | 1,50 E+14 | 937 |
2012 VP113** | Periélio | 1,20 E+13 | 80,0 | ~8,4 E+20 | Afélio | 6,54 E+13 | 436 |
2018 AG37** | Periélio | 4,05 E+12 | 27 | - | Afélio | 2,18 E+13 | 145 |
Nuvem de Oort | Raio interno | 5,00 E+13 | 335 | 6 E+24 * | Raio externo | 4,00 E+15 | ~25 000 |
Plutão & Caronte são considerados como componentes de um sistema planetário duplo, já que o centro de massa está entre os dois corpos.
Quaoar tem uma órbita praticamente circular, com baixissima excentricidade e mostra sinais de metano (vermelho) em sua superfície.
2003 EL61 recebeu o apelido provisório de "Santa" e foi definitivamente nomeado como Haumea (planeta-anão 136108), deusa da fertilidade da mitologia havaiana. Tem dois satélites: Hi'iaka e Namaka, dois dos filhos de Haumea.
2005 FY9 apelidado "Easterbunny" foi recentemente denominado Makemake
2004 DW recebeu o nome de Orcus e sua órbita tem uma extranha sincronia com Plutão & Caronte .
2004 XR190 (Buffy) tem um período de 440 anos e uma órbita circular de grande inclinação (47º).
Sedna tem uma órbita de grande excentricidade, com um raio médio de 8,87 E+13 metros (595 ua). Operíodo orbital é de 12.000 anos e sua baixa velocidade de rotação parecia indicar a existência de um satélite. Recentemente sua rotação foi medida com maior precisão e descartada a hipótese deste satélite.
Eris (2003 UB313) é maior que Plutão, primeiro apelidado popularmente de "Xena". Tem uma órbita muito excêntrica com um periélio de 38, um afélio de 97 ua, uma inclinação de 45 graus e tem um satélite que foi chamado Disnomia, com cerca de 250 km de diâmetro.
2007 OR10 foi apelidado provisóriamente de Branca de Neve mas estudos posteriores mostram que ele é vermelho como Quaoar. Foi retirado da lista e depois redimido. Sua classificação ainda é discutida.
2012 VP113 está sendo carinhosamente chamado de "Biden", nome do vice presidente americano na data da descoberta, devido à sigla "VP" do seu nome provisório.
2014 MU69 foi escolhido para o sobrevoo da New Horizons em janeiro de 2019
Apenas para registro, Próxima Centauri, a estrela mais próxima do nosso sistema está a 4,01 E+16 metros de distância, ou seja, apenas 10 vezes mais longe que estes novos limites.