A lapidação e o polimento

Terminada a ajustagem, poderemos iniciar o trabalho de lapidação e polimento.
Este trabalho é feito em duas fases distintas: a lapidação com abrasivos (#1000 e #1500) e o polimento fino, usando o rouge para óptica sobre uma ferramenta de betume, breu e cera de abelhas, conhecida dos Atm's com "pitch-lap". Somente nesta última etapa é que o vidro ficará brilhante e transparente novamente. Mas elas podem se alternar na busca de uma superfície perfeita.

É recomendável trocar tudo que foi usado com os abrasivos anteriores: panos, copos, colherinha, etc. e forrar a mesa da bancada com uma folha de papel toalha, colocada por baixo dos fixadores.

Depois de uma limpeza caprichada, iniciamos o polimento com o abrasivo #1000 diluído em 1/2 copo de água, utilizando o curso 3 de ajustagem , mas limitando a amplitude a 2 ou 3 cm e com um deslocamento lateral constante de 3 a 4 cm.

O peso do vidro é suficiente para promover o desbaste, não force com as mãos.

Trabalhe até eliminar todos os traços do esmeril anterior e repita a operação para o abrasivo #1500. No final do trabalho os blocos deverão deslizar perfeitamente quando separados por duas ou três gotas de água limpa. A lapidação estará completa quando não existirem mais sinais do abrasivo #1000 e o espelho conseguir refletir o filamento aceso de uma lâmpada incandescente forte num ângulo de 45 graus.

Uma atenção especial deve ser dada à fase de lapidação. É nesta fase que definimos a curvatura final do espelho. O polimento com rouge não conseguirá corrigir defeitos remanescentes da lapidação ou algum arranhão acidental. Por isso não hesite em voltar à lapidação sempre que constatar problemas no início do polimento, você ganhará muito tempo. Estenda a última seção por uns 20 minutos, usando a "lama" do abrasivo e adicionando apenas água quando necessário.

Agora temos de preparar a ferramenta plástica de polimento. Esta ferramenta tem uma característica interessante: é tão dura que se quebra se houver um choque, mas quando prensada, deforma lentamente com o tempo, tomando a forma exata do espelho.

Para fazer o polidor , vamos usar a parte de trás da ferramenta (parte plana), porque voltaremos à lapidação sempre que necessário e assim deixaremos a face convexa livre.

Você vai precisar de um pedaço de betume em pedra, daquele duro, usado para a impermeabilização de lajes, uns 100 g de breu e um pouco de cera de abelhas.
Coloque 50 gramas de betume em uma lata de 1 litro e aqueça em fogo baixo.

Acrescente 30 a 50 gramas de breu em pedra e misture bem com uma vareta de madeira.
Quando não restarem mais pedaços de betume ou breu, apague o fogo e usando a vareta faça um pequeno corpo de prova juntando umas 5 gotas sobre uma folha de jornal e espere esfriar bem. Depois de frio o betume deve soltar facilmente do jornal. Se estiver grudento é sinal que ainda está mole demais.

Se estiver muito macio, acrescente mais um pouquinho de breu. Se estiver muito duro coloque mais betume.

À medida que os solventes do betume evaporam, as amostras vão ficando mais duras.
Quando a mistura estiver "no ponto", despeje uma camada de meio centímetro sobre o verso da ferramenta.
Para isso, corte uma tira comprida de jornal de 3 cm de largura, enrole em torno da ferramenta e fixe com um elástico.
Quando esfriar e o betume endurecer, retire o papel e trace um quadriculado de 20 x 20 mm tomando o cuidado para que a pastilha do meio não fique centrada na ferramenta. Isso tornará mais aleatório o polimento. Usando uma chapinha dobrada em V ou uma haste de ferro de 5 mm de diâmetro aquecidas no fogo faça sulcos sobre o traçado. No final teremos um quadriculado de pastilhas de aproximadamente 15 x 15 mm. Use um trapo para limpar o excesso de betume das ferramentas durante o trabalho.
Use uma faca aquecida no fogo e chanfre as bordas do betume para que a superfície fique um pouco menor que o espelho. Em seguida derreta um pouco de cera de abelhas em outra vasilha e, usando um pincel, espalhe uma camada bem fina sobre o betume. Se a superfície ficar esbranquiçada pela cera, é sinal que a camada ficou muito grossa. Use uma lâmina e raspe o excesso.

A principal característica deste polidor é que ele escoa ao longo do tempo e tomará lentamente a forma exata do espelho, quando prensado. No caso de um choque, o betume se quebrará como vidro. A fina camada de cera de abelhas absorverá as pequenas partículas do rouge durante o trabalho e o polimento será mais rápido, mas se houver excesso de cera ela poderá piorar a qualidade do acabamento.

Faça um anel de cartão ou borracha fina de 130 mm de diâmetro e com uma largura de 15 mm para apoiar o lado convexo da ferramenta sobre a bancada e evitar que ela oscile. Forre o betume com um plástico fino (pode ser de sacola de supermercado) e coloque o espelho por cima. Use dois ou três livros grandes como peso para prensar mais rápido (~ 2 a 3 kg). Após algumas horas, você vai notar que o betume vai escoando, cedendo e aumentando a área de apoio. Entre 24 e 48 horas já deve ter apoiado a parte central (espelhos maiores demoram mais tempo). Refaça os sulcos que fecharem durante a prensagem e prense novamente.

Enquanto o espelho prensa a ferramenta, aproveite para construir um aparelho de testes de Foucault . Basicamente o que precisamos para testar um espelho esférico é uma lanterna com uma luz pontual (ou uma fenda ajustável) e uma lâmina. Mas a construção de um aparelho completo irá facilitar bastante este trabalho.

Polimento fino

Quando a ferramenta estiver pronta, inicie o polimento final, com o rouge retirado da suspensão na água. Em pouco tempo o espelho começará a ficar transparente. Utilize os cursos de ajustagem , com pequena amplitude e sem forçar.

Após uns 10 minutos de trabalho, inspecione o espelho. Se o polimento estiver distribuído por toda a superfície, é sinal que ele está bem esférico mas, se pelo contrário, estiver concentrado no meio, somente nas bordas do espelho ou de maneira irregular, será impossível corrigir a curvatura com o rouge. Teremos de voltar ao abrasivo #1500 ou até o #1000 para uma nova lapidação.

Com cerca de 4 horas de trabalho no rouge, a superfície estará bem polida, melhor até que o polimento original do vidro, e se observada contra a luz, com uma lente forte, apresentará apenas alguns pontos remanescentes da lapidação. Estes pontos desaparecerão durante as inevitáveis correções da curvatura.

Aí vamos para a parte mais delicada: os testes e correções.